segunda-feira, 19 de outubro de 2009

CONE SUL – UM BREVE HISTÓRICO

Das caravelas às velhas caras – colônia e espoliação

Século dezesseis, o sonho de conquistar os mares acalentava uma Europa que caminhava para se tornar poderosa, não tão pujante quanto hoje e ainda dividida em alguns ‘feudos’, muito disso por estarem ainda sem o brilho dos metais e pedras preciosos que viria a arrancar das terras de além mar as quais conquistaria a base do ferro, do fogo e da política de dominação que se perpetuou até os dias de hoje, porém em novas mãos.

Em 1492, a bordo de sua embarcação, Cristóvão Colombo encontra a ilha de Cuba, a partir daí os ameríndios locais não mais tiveram sossego. Foi questão de tempo até que toda a sua terra fosse entregue para a espoliação.

Apesar de que em nada se difere, na prática, para a visão do nativo os dois tipos de colonização da América, pois tanto os ameríndios da América do Sul como os da América do Norte tiveram destinos parecidos.

Pior ainda se pode dizer do que veio a recair sobre os ameríndios vizinhos do Norte, na sua quase totalidade extintos pela gula territorial dos colonos britânicos que vieram e fundaram as tão conclamadas treze colônias e depois começaram a expansão do que vem hoje a ser os Estados Unidos da América.

A colonização da América Latina

Alguns fatores pareceram conspirar contra a América Latina, dando margem a exageros como o Determinismo Ambiental. De fato por se tratar de uma região que se localiza em sua maior parte na zona intertropical, o calor excessivo fez com que o europeu tivesse bastante dificuldade em se estabelecer de maneira definitiva, com fins de moradia e trabalho. É como um daqueles fins de semana com feriado prolongado em que vamos àquela praia mais longínqua. Com o tempo, o calor e a distância dos centros mais ‘desenvolvidos’ contemporâneos expulsam o visitante de volta para a segurança e o frescor de sua casa aconchegante.

Pois bem, é mais ou menos assim que os europeus do século dezesseis viam a América recém descoberta, como um fim de mundo, quente como o inferno, repleto de mosquitos, cobras e animais selvagens. Além de tudo isso, eles ainda teriam que dominar os verdadeiros donos da terra os ameríndios, que a principio lhes causava muito temor, devido a relatos de que algumas tribos eram antropofágicas (comiam gente, no sentido literal da palavra).

Foi bem mais fácil para o europeu se utilizar daquela ‘casa de praia’, para tirar proveito financeiro, sublocando-a. Foi mais ou menos isso o que fizeram, agiram segundo seus interesses. Agiram assim que fizeram na América Latina, porque não encontraram muita resistência, se comparada com a Ásia, onde não conseguiram impor seus métodos.

Nas Américas era melhor para os europeus, em princípio, explorar os produtos provenientes daquela exuberante fauna (animais exóticos) e flora (madeiras de toda espécie, para móveis e tinturaria) e mais tarde colocar as mãos nas preciosidades minerais da colônia exploratória, do que se estabelecerem-se definitivamente em local de acesso e clima difíceis e bastante inóspitos no início da sua jornada colonialista.

Por acharem que teriam sempre uma mentalidade ‘superior’, os europeus também se acharam donos de tudo que conheciam, foi assim com a colonização dos países hispânicos e portugueses, e com a maioria dos retardatários que, via de regra, usavam os métodos parecidos para suas malfazejas colônias, como foi o caso de ingleses, franceses e holandeses que entraram um pouco depois na corrida colonialista.

Quando finalmente ficaram razoavelmente satisfeitos com o tamanho enriquecimento que obtiveram com a pilhagem e os ganhos oriundos das colônias (excetuando-se Portugal e Espanha que deviam muito e por isso repassavam aos ingleses a maior parte da riqueza arrancada das novas terras), os colonizadores europeus se retiraram das colônias e deixaram para trás, toda a ‘estrutura’ que impossibilitaria qualquer tentativa de desenvolvimento e progresso, além de muita dívida e dependência econômica e cultural, as quais perduram até os dias de hoje em dia em alguns países ex-colônias, como é facilmente observável quando relembramos os últimos dois séculos, com um Brasil ‘afrancesado’ e Uruguai e Argentina ‘londrinos’ e nesse século que se findou, bem como neste em que nós agora adentramos, o American Way of Life cultural e econômico que se insiste em seguir em países tão díspares, descaracterizando por completo e desarraigando os costumes precípuos da América Latina.

Até mesmo outro fator, o religioso, teve algum peso na maneira como fora utilizada a terra nova. Dependendo da religião do povo europeu que loteou a América, cada colônia foi conduzida de uma maneira diferente. Os países anglicanos, protestantes, protestantes ortodoxos, pré-calvinistas, pré-luteranos, etc. foram ‘melhores intencionados’ na função que dariam àquela terra recém descoberta, poderíamos chamar isto de Determinismo Religioso, o fato é que a História confirma isso quando traz a mente os erros e acertos das políticas religiosas da época e a junção destas com as políticas de estado.

Um exemplo claro de inaptidão, foi o fato da Igreja Católica Apostólica Romana, via sucessivos Papas, contribuir para o insucesso da América Latina, quando persegui todo tipo de diferença e prática religiosa e financeira naquelas épocas de maior necessidade de afirmação do continente frente os demais. Portugal e Espanha promoveram a expulsão de um grande contingente de judeus, ciganos, agiotas, comerciantes, ateus, etc. sob uma forte perseguição essa gente levou consigo seus pertences (o ter) e suas posses (o ser) para os países mais liberais em termos financeiros e religiosos, desta maneira acabaram indo parar na Holanda que com o conhecimento destes veio a se tornar um pesadelo para portugueses e espanhóis.

Veja o caso da expulsão dos judeus que viviam em Pernambuco, ao saírem do Brasil, via embarcação holandesa, sob acusação de conspirarem em favor destes (dos holandeses) em Pernambuco, e em outras localizações nordestinas brasileiras, foram parar em Nova Amsterdã, que hoje é nada mais nada menos do que Nova Iorque, a literal capital cultural e financeira do mundo atual.

Em contrapartida, a Inglaterra, a Suécia, a Alemanha, a Holanda, etc. tiveram as suas bases teológicas ‘revistas’ e passaram a atrair toda espécie de contribuições científicas, culturais e financeiras (principalmente). Os Estados Unidos da América e o Canadá, também se beneficiaram e muito por não terem ficado cegos pelas doutrinas dogmáticas, e se tornaram também atraentes para estas imigrações vindas da Europa, o que facilitou ainda mais o desenvolvimento destas nações, financeiramente e nas diversas ciências.

Não que queiramos supor haver uma superioridade em relação às práticas religiosas, mas que a conduta truculenta da Igreja Católica foi fundamental para o subdesenvolvimento da América, isso é bastante visível. Como se este Determinismo Religioso não bastasse, temos também, outra espécie danosa de condução da política de colonização e exploração da América Latina e particularmente no Brasil, que foi a escravidão. Esta prática de submeter pessoas ao trabalho forçado, primordialmente associado aos ‘plantations’ e depois à mineração, tornou atrasado alguns países como é o caso de todos os da América Latina, e no que nos toca o Brasil, onde mesmo nos dias de hoje o Nordeste é mais atrasado e bastante marcado pelas práticas escravocratas que deixaram sua estrutura bem definida ali, e é por isso que ainda se vê este tipo de prática (veladamente) no nosso território.

Em alguns casos a escravidão e a plantation deixou atrasadas algumas regiões, como no caso dos Estados Unidos da América onde o Sul continuou escravocrata por mais tempo e até os dias de hoje é menos desenvolvido do que o Nordeste.

Enfim, podemos afirmar que a América Latina sofreu por causa de seu clima quase em todas as regiões inadequados para a habitação européia, por que penou nas mãos dos colonizadores incompetentes, mas não devemos nos esquecer que também sofremos pela atuação danosa da religião na sua falência, na verdade, justiça seja feira, a religião também inviabilizou as próprias Metrópoles, quando da debandada de tantos cidadãos ricos, em sabedoria e em finanças (os países europeus católicos decaíram enquanto os protestantes progrediram).

Hoje em dia, algo que explica essa condição, ainda deplorável, é a contumácia dos governantes latinos americanos atuais, as oligarquias, que detém o poder de maneira perpétua, financeiro ou militar, em continuar deixando a Igreja intervir no Estado, apesar desse ser laico. Esta classe se beneficiou e ainda se beneficia do subdesenvolvimento da América, não possui visão de desenvolvimento apropriada para o futuro da região, pensando sempre de maneira imediatista, sendo que as suas políticas é a do ganho rápido e egoísta, esquecem que o desenvolvimento sustentável só é possível de ser alcançado levando-se em conta as condições climáticas e ecológicas da terra, bem como da mobilização do nativo para a luta em comum, cooperativada e legitimada.

Sabemos ser este desenvolvimento alcançado a muito longo prazo, com sacrifício de todos, mas também sabemos que em verdade, o sacrifício é sempre imputado àqueles que há cinco séculos já vem dando sua cota de sacrifício e sangue, em prol da minoria que detém o perene poder e uma ganância predatória que não se debela nem mesmo com a escassez de riquezas a serem espoliadas, como a que vivemos nesta era.

O CONE SUL: UM QUINTAL NORTE-AMERICANO

Sempre pareceu muito pouco lógico o MERCOSUL, afinal de contas é sempre mais vantajoso vender para quem tem mais dinheiro, no caso para os Estados Unidos, Japão e Europa e que para entrar nesse ‘clube’ de países ricos o Brasil deveria esquecer de alguns vizinhos complicados, que nos dão mais prejuízo e dores de cabeça do que lucro.

O conceito do que vem a ser um mercado comum no Cone Sul é complicado, são países com economia, política e costumes diferentes. Alguns já foram ricos e hoje são pobres como o Uruguai e argentina, o outro tentou um modelo de desenvolvimento industrial alternativo há cerca de dois séculos atrás e foi impedido pela truculência de vizinhos de MERCOSUL e da potência hegemônica da época (Inglaterra) e depois disso jamais saiu da miséria como é o caso do Paraguai, ou nos surpreende com bastante crescimento econômico e social como o Chile, que tem servido de exemplo ultimamente, mas que já dá sinais claros de esgotamento e no nosso caso, um imenso potencial para crescer, um território ecumênico e quase que totalmente aproveitável, mas que por abrigar todo tipo de mazela social e política, estará sempre na condição de emergente.

Esse mercado envolvendo o Brasil, a argentina, o Paraguai e o Uruguai, com a posterior associação de Chile e Bolívia como convidados especiais para esta ‘festa’ comercial, tão sonhada teve início prático em 1995 e agora agoniza por imposição externa e falta de visão á longo prazo dos governantes de alguns países membros. Por isso resolvi pesquisar a história comum desses países, e principalmente a história mais recente, da metade do século passado até o início deste conturbado século XXI, para tentar entendê-los e repassar as informações para os leitores de maneira resumida, porém sem ser muito ‘simplista’.

Há muito tempo vêm-se tentando uma união com os povos vizinhos da América do Sul, em especial aqueles que estão mais próximos geograficamente, como é o caso da Argentina, do Uruguai e do Paraguai, vizinhos de fronteira e solidários no que toca ao sofrimento mútuo e dominação do gigante do Norte. Seria interessante aos três vizinhos, que houvesse melhor entendimento e que passassem a agir como um único país, respeitando-se a diversidade cultural de cada um.

Ora, pedir que os brasileiros, os argentinos, os paraguaios e os uruguaios se entendam, soa demasiadamente pretensioso, não é mesmo? São três países com histórias diferentes, sendo que essa diferença é ainda mais gritante quando comparamos os hermanos com o Brasil social, política, econômica e culturalmente. Somos os únicos que falam língua diferente, fomos os últimos a pensar em libertação da Metrópole dominadora, o nosso país foi, sem dúvida, o que mais escravizou na América Latina.

Mas, já houve uma grande integração no continente, ela se deu num momento crucial para a história da América Latina, talvez até mais importante do que o próprio colonialismo europeu, que dilapidou nossos países. Estamos falando da Guerra Fria, da caça aos comunistas e subversivos, que numa dada época uniu para fins amorais países tão díspares como o Chile, Paraguai, o Uruguai, o Brasil e a Argentina.
Houve também a colaboração bastante importante da Bolívia e do Peru para o êxito dessa espécie de ‘enxugamento político’ da América do Sul da ameaça comunista e subversiva.

Essa união sob a batuta dos Estados Unidos da América teve um nome simbólico bastante adequado, Operação Condor, ora, o condor é na verdade um carniceiro, como o nosso urubu, mas que sobrevoa as Cordilheiras dos Andes, daí intuímos que os veículos utilizados para por em prática a ‘caça as bruxas’ deveria parecer bastante com o sinistro pássaro em seu desejo de carniça.

E não foi muito diferente, quando a Operação Condor levantou vôo, a carnificina foi considerável, haja vista a quantidade de desaparecidos nas décadas de ditadura e desmandos de generais e políticos responsáveis pela condução do continente de modo conveniente para com o grande irmão da América do Norte. O condor abriu suas asas sobre a América Austral, decolou, voou, comeu bastante ‘carniça’, para só ser abatido pelo processo democrático que remodelou a América do Sul no fim do século passado, começando de verdade no final da década de oitenta e se consolidando aos poucos em quase todos os países.

Agora paira uma ameaça no ar, com a debelação dos componentes do MERCOSUL, bem como de toda a América Latina (que os norte-americanos devem ver como América Latrina), estamos em via de ter empurrado goela abaixo uma espécie de ‘fórmula mágica’ ou ‘tábua de salvação’ neoliberal chamada Área de Livre Comércio das América, a ALCA, que parece ser apenas mais um instrumento de dominação norte americano, numa reedição de políticas recorrentes do tipo da Operação Condor, como uma nova visão piorada da “América para os americanos”.

Da maneira como estão (econômica e politicamente), os países do Cone Sul, e nesse caso também o restante da América Latina não se diferenciam muito, não estarão aptos à uma concorrência comercial nem sequer com o Brasil e o México, quanto mais em se tratando de duas potências econômicas gêmeas siamesas como são o Canadá e os Estados Unidos da América.

De fato todos seremos, inevitavelmente, esmagados em nossas economias e, sobretudo no que diz respeito a soberania, e receio que seja este, deveras, o intuito dos gigantes do Norte, que andam ‘mal das pernas’ e vêem na ALCA, e seus cerca 800 milhões de consumidores, a salvação de suas economias e um ‘elixir’ para revigorá-los para competir em pé de igualdade com a União Européia (essa sim uma verdadeira unificação) e com os países asiáticos mais dinâmicos.

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